Artigo • Psicol. cienc. prof. 44 • 2024 • https://doi.org/10.1590/1982-3703003264821 copiar
Social Representations about Being a Woman in Contemporary Society
Representaciones Sociales sobre Ser Mujer en la Sociedad Contemporánea
Este artigo apresenta uma análise das representações sociais que englobam a visão do ser mulher na sociedade contemporânea, acompanhada de reflexões sobre o que o gênero feminino implica nas relações sociais e culturais. Partindo da teoria das representações sociais, buscou-se entender como mulheres compreendem o significado de “ser mulher” no meio em que se encontram. A pesquisa foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada, aplicada a um grupo de 25 mulheres de diferentes classificações etárias, socioeconômicas e sociais, com foco em questões sobre o que é ser mulher para cada uma delas, e se elas sentem-se prejudicadas em alguma situação pelo fato de pertencerem a esse grupo. Foi possível observar, a partir dos resultados, que se formaram dois grupos, representantes de uma dualidade compartilhada pela maioria das participantes, sendo de um lado ressaltadas as características da mulher tradicional, e do outro a mulher guerreira e as dificuldades vivenciadas no cotidiano de uma sociedade ainda regida pelas noções tradicionais de gênero.
Palavras-chave:
Representações Sociais; Mulher; Gênero; Contemporaneidade
This study analyzes the social representations that encompass the vision of being a woman in contemporary society, followed by reflections on what the female gender implies in social and cultural relations. Starting from the theory of social representations, we seek to understand how women understand the meaning of what “being a woman” implies in the environment in which they find themselves. This research was carried out using semi-structured interviews that were applied to 25 women of different age, socioeconomic, and social classifications, focusing on questions about what it means to be a woman for each of them and if they feel disadvantaged in some situation because they belong to this group. Results showed that two groups were formed, representing a duality most participants shared, with the characteristics of the traditional woman being highlighted on the one hand, and the warrior woman and the difficulties experienced in the daily life of a woman on the other in a society still governed by traditional notions of gender.
Keywords:
Social Representations; Women; Gender; Contemporaneity
Este artículo analiza las representaciones sociales que engloban la visión de ser mujer en la sociedad contemporánea reflexionando sobre lo que implica el género femenino en las relaciones sociales y culturales. Partiendo de la teoría de las representaciones sociales, se busca comprender cómo las mujeres entienden el significado de “ser mujer” en el entorno donde se encuentran. Esta investigación se llevó a cabo mediante una entrevista semiestructurada, aplicada a un grupo de 25 mujeres de diferentes grupos de edad, socioeconómicos y sociales, enfocándose en preguntas sobre qué significa ser mujer para cada una de ellas y si se sienten en desventaja en alguna situación por pertenecer a este grupo. Los resultados revelan la representación de una dualidad compartida por la mayoría de las participantes, destacándose, por un lado, las características de la mujer tradicional y, por el otro, de la mujer guerrera y las dificultades vividas en una sociedad bajo nociones tradicionales de género.
Palabras clave:
Representaciones Sociales; Mujeres; Género; Tiempo Contemporáneo
A sociedade vive constantes transformações, sejam elas históricas, tecnológicas, ideológicas ou sociais, que impactam diretamente na forma de pensar e agir das pessoas. No que diz respeito às mulheres, observam-se mudanças na forma de pensar sobre o “ser mulher” na contemporaneidade e como se vislumbra esse fenômeno em outros contextos históricos (Antunes, Neto, Lima-Souza, & Santos, 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ).
No cotidiano do século XIX, quando as mulheres eram escondidas da vista dos forasteiros, sendo resguardadas no âmbito do lar, privadas do contato com a rua, obedientes e prioritariamente mães devotas. Essa forma de pensar e agir era compartilhada por todas as classes sociais. Com isso, há uma construção e um desenvolvimento cultural de assimetria do poder, designando às mulheres as obrigações referentes aos cuidados e afazeres domésticos, às necessidades do casamento e da maternidade e à submissão ao marido (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Maia, 2018 Maia, C. J. (2018). Bravas e insubmissas: Mulheres e gênero na literatura memorialista do sertão norte-mineiro. Tempo & Argumento, 10(25), 358-384. https://doi.org/10.5965/2175180310252018358
https://doi.org/10.5965/2175180310252018... ; Santos & Silveira, 2017 Santos, C. S., & Silveira, L. M. C. (2017). Percepções de mulheres que vivenciaram o aborto sobre autonomia do corpo feminino. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(2), 304-317. https://doi.org/10.1590/1982-3703000582016
https://doi.org/10.1590/1982-37030005820... ; Vieira, Arruda, Nóbrega, & Veiga, 2016 Vieira, K. F. L., Arruda, M. V. S., Nóbrega, R. P. M., & Veiga, P. M. M. (2016). Representações sociais das relações sexuais: Um estudo transgeracional entre mulheres. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 329-340. https://doi.org/10.1590/1982-3703001752013
https://doi.org/10.1590/1982-37030017520... ).
Vislumbrar a história das mulheres e das relações de gênero no passado é um desafio para os historiadores e interessados, visto que os arquivos e o olhar dos homens calam as mulheres representantes da época. Entretanto, por mais que lhes fossem vedados os espaços públicos, as decisões políticas e discussões, as mulheres faziam-se presentes nos espaços de sociabilidade e desenvolvimento cultural, como na elaboração de bailes e festas tradicionais, na igreja, no cinema e no teatro, entre outros. As principais estratégias da elite brasileira no início do século XX foram idealizar e disseminar modelos de família conjugal e casamento legítimo entre homens e mulheres marcados pela diferença de gênero, com o intuito de disciplinar e manter o controle sobre as mulheres, assim como de assegurar a maternidade e submissão (Maia, 2018 Maia, C. J. (2018). Bravas e insubmissas: Mulheres e gênero na literatura memorialista do sertão norte-mineiro. Tempo & Argumento, 10(25), 358-384. https://doi.org/10.5965/2175180310252018358
https://doi.org/10.5965/2175180310252018... ).
Todavia, esse conjunto começou a ser descaracterizado com o início do movimento feminista no Brasil. A partir da Proclamação da República, a primeira onda feminista se iniciou com o movimento sufragista e a busca do trabalho assalariado no início do século XX. Na década de 1960, se iniciou a segunda onda do feminismo nos Estados Unidos da América (EUA), com discussões sobre o mercado de trabalho, a família, a violência contra a mulher e direitos sexuais e reprodutivos. No Brasil, a ditadura militar perseguia movimentos sociais, e a segunda onda somente ocorreu de forma mais significativa após a redemocratização do país (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ). Na década de 1980, o objetivo era emancipar as mulheres e buscar a igualdade de direitos entre os gêneros, inclusive no mundo do trabalho, com a inserção de feministas em sindicatos e associações profissionais (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Gonzaga & Mayorga, 2019 Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidade: Uma reflexão feminista decolonial. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(spe2), 59-73. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712
https://doi.org/10.1590/1982-37030032257... ). Na terceira onda feminista, na década de 1990, as discussões sobre a identidade das mulheres, o racismo, a sexualidade, a identidade de gênero e os estereótipos femininos na mídia tomaram mais força (Bedin, Cittadino, & Araújo, 2015Bedin, G. A., Cittadino, G. G., & Araújo, F. D. (2015). Poder, cidadania e desenvolvimento no estado democrático de direito [Apresentação de trabalho]. 24º Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. ; Ribeiro, 2014 Ribeiro, D. (2014, 25 de novembro). As diversas ondas do feminismo acadêmico. Portal Geledés. https://tinyurl.com/5746c5fc
https://tinyurl.com/5746c5fc... ).
Essa luta tinha diversas pautas e instigava críticas a comportamentos com prerrogativas patriarcais que mutilavam ascensões femininas na sociedade, como a construção das obrigações anexadas ao gênero e a imposição da natureza biológica como orientador de ações e escolhas (Barbosa & Rocha-Coutinho, 2012 Barbosa, P. Z., & Rocha-Coutinho, M. L. (2012). Ser mulher hoje: A visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade, 23(3), 577-587. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200... ; Galvane, Salvaro, & Moraes, 2015 Galvane, F. A. S., Salvaro, G. I. J., & Moraes, A. Z. (2015). Mulheres em cargos profissionais de chefia: O paradoxo da igualdade. Fractal: Revista de Psicologia, 27(3), 301-309. https://doi.org/10.1590/1984-0292/919
https://doi.org/10.1590/1984-0292/919... ; Santos, Carvalho, Amaral, Borges, & Mayorga, 2016 Santos, L. C., Carvalho, A. B., Amaral, J. G., Borges, L. A., & Mayorga, C. (2016). Gênero, feminismo e psicologia social no Brasil: Análise da revista Psicologia & Sociedade (1996-2010). Psicologia & Sociedade, 28(3), 589-603. https://doi.org/10.1590/1807-03102016v28n3p589
https://doi.org/10.1590/1807-03102016v28... ; Santos & Silveira, 2017 Santos, C. S., & Silveira, L. M. C. (2017). Percepções de mulheres que vivenciaram o aborto sobre autonomia do corpo feminino. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(2), 304-317. https://doi.org/10.1590/1982-3703000582016
https://doi.org/10.1590/1982-37030005820... ; Vieira et al., 2016 Vieira, K. F. L., Arruda, M. V. S., Nóbrega, R. P. M., & Veiga, P. M. M. (2016). Representações sociais das relações sexuais: Um estudo transgeracional entre mulheres. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 329-340. https://doi.org/10.1590/1982-3703001752013
https://doi.org/10.1590/1982-37030017520... ). Além disso, desmistificar preconceitos que orientassem a forma de pensar a vivência feminina, implementar a diferenciação sexo/gênero e desvencilhar orientações a nível intrínseco sobre heterossexualidade, feminilidade, corpo feminino, alimentação, estética, autocuidado etc. sempre foram orientadores de debates sociais desse movimento (Gonzaga & Mayorga, 2019 Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidade: Uma reflexão feminista decolonial. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(spe2), 59-73. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712
https://doi.org/10.1590/1982-37030032257... ).
Com a ascensão do capitalismo e sob impulso do movimento feminista, as mulheres foram inseridas no mercado de trabalho, no qual conquistam cada vez mais espaço em todos os lugares e nas mais diversas atividades (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ). Entretanto, ainda lhes são destinadas às funções domésticas, familiares e maternas (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Galvane et al. 2015 Galvane, F. A. S., Salvaro, G. I. J., & Moraes, A. Z. (2015). Mulheres em cargos profissionais de chefia: O paradoxo da igualdade. Fractal: Revista de Psicologia, 27(3), 301-309. https://doi.org/10.1590/1984-0292/919
https://doi.org/10.1590/1984-0292/919... ), o que de certa forma respalda as possibilidades de fracasso e retorno às tarefas do lar, resultando em uma representação de que a vida profissional da mulher concorre com a vida privada (Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ). Além disso, como o campo profissional já estava sendo ocupado pelos homens há muito tempo, as mulheres vivenciam a necessidade de provar que são merecedoras de tal espaço e confiança. Souza ( 2020 Souza, C. G. (2020). A mulher de negócios no discurso do trabalho feminino. Revista Katálysis, 23(3), 700-706. https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p700
https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23... ) afirma: “as mulheres estão constantemente expostas a um conflito, que pode ser explicado pela dupla/tripla jornada de tarefas quando gerenciam seus negócios, uma vez que a mulher continua sendo responsável pelas tarefas domésticas” (p. 704). Nesse sentido, nota-se que, apesar do avanço social em relação a seus direitos, ainda se fazem presentes os valores de submissão e invisibilidade associados ao patriarcado, por estar imbricado socialmente. Observa-se que as mulheres têm mais autonomia e poder em seu trabalho quando há um equilíbrio na divisão das tarefas domésticas, por exemplo em países em que as normas de gênero são mais igualitárias (Chai, Ríos-Salas, Stek, & Heymann, 2022 Chai, Y., Ríos-Salas, V., Stek, P., & Heymann, J. (2022). Does enhancing paid maternity leave policy help promote gender equality? Evidence from 31 low- and middle-income countries. Gender Issues, 39, 335-367. https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293-4
https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293... ).
Outro fator determinante em relação à vivência feminina é a maternidade, um papel tradicionalmente considerado o cerne da mulher, acontecimento este que socialmente não se limita ao espaço privado em que se exerce essa função, principalmente ao considerar que nos últimos anos a mulher vem ampliando seu leque social (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ; Roso & Gass, 2018 Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018... ). A pauta em torno da maternidade apresenta-se como uma dualidade na experiência de ser mulher, visto que a sociedade patriarcal instiga a procriação, entretanto cobra da mãe uma prática digna e plausível, novamente tornando a vivência feminina um conteúdo de teor público. Essas duas esferas se chocam quando mulheres relatam sentirem-se prejudicadas pela cobrança e a necessidade de provar que são capazes de exercer um papel suficientemente bom enquanto mães, às vezes com o adicional de serem responsáveis pelas atitudes dos filhos, mas em seguida expressam sentimentos de completude, realização, amor inexplicável e felicidade ao exercer o papel materno (Roso & Gass, 2018 Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018... ).
Dessa maneira, um dos principais vínculos à imagem da mulher é a maternidade, considerada uma obrigação natural e um fardo biológico, assim como um passo necessário para alcançar a plenitude feminina (Barbosa & Rocha-Coutinho, 2012 Barbosa, P. Z., & Rocha-Coutinho, M. L. (2012). Ser mulher hoje: A visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade, 23(3), 577-587. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200... ), tanto que a escolha pela não perpetuação da família resulta em uma estigmatização negativa, como se houvesse algo de errado com a mulher (Santos & Silveira, 2017 Santos, C. S., & Silveira, L. M. C. (2017). Percepções de mulheres que vivenciaram o aborto sobre autonomia do corpo feminino. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(2), 304-317. https://doi.org/10.1590/1982-3703000582016
https://doi.org/10.1590/1982-37030005820... ). Apesar de o debate sobre a imagem feminina ainda precisar ser mais explorado, existem avanços significativos que denotam uma expansão crítica acerca desse fenômeno.
O olhar em relação ao feminino e sobre a imagem do ser mulher na contemporaneidade pode ser refletido e elaborado por meio da teoria das representações sociais (TRS), uma das teorias que estruturam a psicologia social. A TRS surgiu em 1961, a partir do trabalho desenvolvido por Serge Moscovici, que construiu seus princípios e sua matriz (Polli & Camargo, 2010Polli, G. M., & Camargo, B. V. (2010). A teoria das representações sociais e a abordagem estrutural. In J. Segata, N. Machado, E. C. Mandroi, & E. R. Goetz (Orgs.), Psicologia: Inovações (pp. 13-41). Unidavi. ). As representações sociais (RS) são formas de conhecimento disseminadas pelo senso comum, ou seja, aquilo que pessoas consideradas leigas definem acerca do mundo e suas relações, gerando uma representação daquele fenômeno (Jodelet, 2001Jodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. In D. Jodelet, As representações sociais (pp. 17-29). Eduerj. ). Sêga ( 2000 Sêga, R. A. (2000). O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Anos 90, 8(13), 128-133. https://doi.org/10.22456/1983-201X.6719
https://doi.org/10.22456/1983-201X.6719... ) aponta que as RS são a atribuição da posição que as pessoas ocupam na sociedade, visto que toda representação é a representação de algo ou de alguém. Não sendo cópia real, ideal e nem subjetiva do objeto, é o processo que se dá na relação entre o mundo e as coisas, ou seja, as RS são um todo, um conhecimento pessoal, experiências e relações das pessoas com o mundo.
Jodelet ( 2001Jodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. In D. Jodelet, As representações sociais (pp. 17-29). Eduerj. ) indica que, quando tratamos das representações, estamos diante de fenômenos diretamente observáveis, os quais tornaram-se o objeto central das ciências humanas nos últimos tempos. As RS são fenômenos complexos que englobam aspectos informativos, cognitivos, ideológicos, normas, crenças, valores, atitudes, opiniões, entre outros, sendo fenômenos sempre ativos que agem no contexto social. Nesse sentido, as RS se caracterizam como um possível viés para compreensão dos constructos em torno da imagem e do que é ser mulher, suas funções e características, visto que as grandes reviravoltas e mudanças sociais justificam-se a partir dos pensamentos construídos e compartilhados.
Visto isso, na tentativa de entender mais profundamente como as representações sociais do ser mulher estão imbricadas no contexto sócio-histórico brasileiro, algumas pesquisas indicam a mulher como objeto social de reprodução e satisfação masculina, dona do lar, restrita ao espaço privado, obrigatoriamente mãe, fadada aos estigmas da feminilidade (Martins & Miranda, 2020Martins, C., & Miranda, D. C. B. (2020). Erotização e sexualização do corpo: Representações sociais da mulher brasileira. Gênero na Amazônia, (16-18), 131-145. ; Silva, Santos, Santana, & Ferreira, 2021Silva J. N., Santos, R., Santana, K. W. B., & Ferreira, A. S. (2021). As transformações nos modos de viver em família e o papel social da mulher. Humanidades e Inovações, 8(46), 344-353. ; Soares, 2019Soares, G. A. A. (2019). O avanço do neoconservadorismo e a concepção do papel social da mulher no Brasil contemporâneo: Uma breve análise dos significados das declarações e decisões políticas do governo Bolsonaro e de sua ministra Damares Alves [Apresentação de trabalho]. 16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, Brasília, DF, Brasil. ). O estudo de Matsunaga ( 2008 Matsunaga, P. S. (2008). As representações sociais da mulher no movimento hip hop. Psicologia & Sociedade, 20(1), 108-116. https://doi.org/10.1590/S0102-71822008000100012
https://doi.org/10.1590/S0102-7182200800... ) analisou algumas letras de músicas de hip hop de maneira a compreender as RS do ser mulher em relação à maternidade, salientando que, apesar de os rappers compartilharem de representações já enraizadas sobre a mulher, como de ser mãe e cuidadora, também contribuem para a formação de uma nova visão: a da mulher lutadora e provedora do lar, visto que, cada vez mais, a “mãe” vem sendo a responsável pela manutenção familiar, tanto no aspecto econômico quanto social.
Além disso, as RS que circundam e estruturam a imagem da mulher estão permeadas pela objetificação e erotização do corpo feminino voltado a satisfazer as necessidades masculinas (Cunha, Godoi & Alves, 2019Cunha, J. R. F., Godoi, I. F., & Alves, T. R. L. (2019). Representações sociais do gênero feminino nas músicas brasileiras mais reproduzidas em 2017. Revista Brasileira de Educação e Cultura, (19), 68-83. ; Marinho, 2017Marinho, A. C. P. (2017). A estrutura patriarcal do olhar: Uma análise da objetificação do corpo da mulher na imagem. O Mosaico, (14), 179-189. ), principalmente ao considerar a expansão midiática dos meios de comunicação como filmes, músicas e revistas. Apesar da grande evolução social e das conquistas femininas nos últimos tempos, ainda fica explícita a necessidade de preocupar-se com a beleza e a estética de modo a encaixar-se no padrão preestabelecido socialmente (Bayone & Burrowes, 2019 Bayone, A. M., & Burrowes, P. C. (2019). Como ser mulher na publicidade: Femvertising e as “novas” representações do feminino. Consumer Behavior Review, 3(spe), 24-37. Https://doi.org/10.51359/2526-7884.2019.242586
Https://doi.org/10.51359/2526-7884.2019.... ; Ney, 2019 Ney, J. B. (2019). Representações sociais das mulheres em revista brasileira voltada ao público feminino [Monografia, Centro Universitário de Brasília]. Repositório institucional da UniCEUB. https://tinyurl.com/bdddrj8m
https://tinyurl.com/bdddrj8m... ; Polli et al., 2018 Polli, G. M., Silva, J. C. C., Pereira, M. G., Reis, R. A., Peruci, T. T., Gelinski, E. M. M., & Gebara, T. S. S. (2018). Social representations of anorexia among university students and risk factors: Possible relations. Psico, 49(1), 12-20. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.1.25251
https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.... ). Um artigo sobre a análise de letras de músicas brasileiras (Perestrelo, Tonini, Ferreira, Luna, & Sauerbronn, 2017Perestrelo, J. R. R., Tonini, K. A. D., Ferreira, T. C. R., Luna, C. P., & Sauerbronn, J. F. R. (2017). Mulher e música: Uma análise de discurso do papel social da mulher na música brasileira [Apresentação de trabalho]. 8º Congresso Brasileiro de Administração e Contabilidade, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. ) demonstrou que o papel social da mulher perpassa categorias como serviçal, trabalhadora e, mais recentemente, independente e contemporânea.
Entretanto, as mulheres ainda enfrentam barreiras no ambiente do trabalho – não possuem equidade salarial, não podem se ponderar de suas qualificações e habilidades, devem expressar sua feminilidade e replicar a subordinação à figura do homem, mostrando que as relações de gênero influenciam diretamente as relações organizacionais (Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ; Barros & Mourão, 2018 Barros, S. C. V., & Mourão, L. (2018). Panorama da participação feminina na educação superior, no mercado de trabalho e na sociedade. Psicologia & Sociedade, 30, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30174090
https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v3... ; Feitosa & Albuquerque, 2019 Feitosa, Y. S., & Albuquerque, J. S. (2019). Evolução da mulher no mercado de trabalho. Bussiness Journal, 1(1), 1-17. https://doi.org/10.6008/CBPC2674-6433.2019.001.0005
https://doi.org/10.6008/CBPC2674-6433.20... ). Tendo em vista os estudos já realizados, assim como os avanços culturais e sociais conquistados pelas mulheres no decorrer dos séculos XX e XXI, o objetivo desta pesquisa é compreender as representações sociais que estruturam e englobam a imagem do que é ser mulher na sociedade contemporânea a partir da ótica das próprias mulheres, assim como compreender situações em que as participantes se sentiram prejudicadas por serem mulheres.
Participantes
Participaram do estudo 25 mulheres com idades entre 20 e 67 anos (M=33,72; DP=12,26), com diferentes graus de escolaridade, que residiam em bairros centrais e periféricos da cidade de Curitiba, assim como da Região Metropolitana. A Tabela 1 apresenta as características das participantes.
Tabela 1
Perfil das participantes.
Instrumentos
Foram realizadas entrevistas com um roteiro semiestruturado, que foram gravadas em áudio e transcritas na íntegra. O roteiro de entrevista foi composto por 12 questões que foram elaboradas no intuito de englobar temas relevantes para a identificação de como e quais são as representações sociais do que é ser mulher, se existiam sentimentos de prejuízo vinculados à vivência feminina e dados sociodemográficos. As questões analisadas envolviam duas vertentes principais, sendo a primeira relacionada a “o que significa ser mulher para você?” e “quais características uma mulher precisa ter para ser mulher?”, e a segunda abordando as dificuldades no ser mulher com a questão “você já se sentiu prejudicada em alguma situação só pelo fato de ser mulher? Se sim, qual foi a situação?”.
Procedimentos
Após submissão e aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Tuiuti do Paraná, pelo parecer CAAE 31412720.2.0000.8040, as participantes foram contatadas utilizando a técnica de amostragem “bola de neve”, em que cada uma das pesquisadoras selecionou conhecidas de seu círculo social e entrou em contato via mensagem do WhatsApp solicitando a entrevista. Essas conhecidas também indicaram outras possíveis participantes, que foram contatadas da mesma forma. De acordo com Dewes ( 2013 Dewes, J. O. (2013). Amostragem em bola de neve e respondent-driven sampling: Uma descrição dos métodos [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. LUME – Repositório digital da UFRGS. https://tinyurl.com/ymd4k4mu
https://tinyurl.com/ymd4k4mu... ), esse método deve ser utilizado para alcançar vários indivíduos de uma determinada população por intermédio de uma pessoa, presumindo que exista uma ligação entre esses membros.
As entrevistas foram realizadas por meio de plataformas de videochamada escolhidas pela participante, como WhatsApp, Microsoft Teams ou Google Meet. Inicialmente, os objetivos da pesquisa foram explicados e foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Após o aceite em participar da pesquisa, as participantes assinaram o TCLE e o enviaram via WhatsApp ou e-mail, sendo permitido que, aquelas que não tinham ferramentas para o envio digital, realizassem a autorização verbalmente antes da entrevista ser iniciada, via chamada de vídeo. Todas as entrevistas tiveram o áudio gravado com autorização prévia, utilizada como medida para garantia do sigilo e do anonimato. Houve a solicitação de que a entrevista fosse concedida em um ambiente isolado, sem demais pessoas presentes e sem ruídos.
Análise de dados
As perguntas de caracterização socioeconômicas foram analisadas por estatística descritiva de forma a compreender melhor a realidade das participantes e organizar os perfis. Já as perguntas: “o que significa ser mulher para você?” e “quais características uma mulher precisa ter para ser mulher?” foram respondidas pelas 25 participantes, constituindo o corpus da análise. Os discursos foram analisados pela classificação hierárquica descendente (CHD), por subsídio do programa IRaMuTeQ. A partir de então, foram estabelecidos os subtemas e as categorias temáticas. Partiu-se dos resultados da CHD para estabelecimento de categorias temáticas, conforme o modelo proposto por Bardin ( 2011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70. ). O método CHD é utilizado para agrupar discursos comuns, formando uma classe que se assemelha, pela frequência e associação estatística (qui-quadrado), a um nível de significância de 5%. Diante disso, são formadas classes convergentes em sua composição e, ao mesmo tempo, classes divergentes, organizando assim uma classificação hierárquica. Portanto, as classes que se aproximam representam temas que se associam, e as classes afastadas representam seu oposto (Souza, Wall, Thuler, Lowen, & Pires, 2018 Souza, M. A. R., Wall, M. L., Thuler, A. C. M. C., Lowen, I. M. V., & Peres, A. M. (2018). O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52, 1-7. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353
https://doi.org/10.1590/S1980-220X201701... ).
A pergunta “você já se sentiu prejudicada em alguma situação só pelo fato de ser mulher? Se sim, qual foi a situação?” também foi respondida pelas 25 participantes e a análise foi feita por similitude, também pelo programa IRaMuTeQ. Essa análise consiste em ilustrar ligações entre os textos por conexidade entre palavras – palavras se conectam por possuírem maior relevância entre as selecionadas e sua rede de ligações indica a frequência e proximidade (Camargo & Justo, 2013 Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). IRAMUTEQ: Um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513-518. http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16
http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16... ).
Os resultados foram divididos em dois tópicos. No primeiro, são apresentadas as RS sobre ser mulher para as participantes. No segundo, são apresentados os relatos sobre os prejuízos vivenciados por ser mulher.
Representações sociais sobre ser mulher
Todas as 25 participantes responderam à questão “o que significa ser mulher para você”, de modo que o corpus para análise sobre o significado de ser mulher gerou 25 textos que originaram 76 segmentos de texto (STs), dos quais 62 (81,58%) foram retidos para análise. A partir da análise, foram identificadas seis classes de conteúdo, a partir das quais foram estabelecidos os subtemas e as categorias temáticas. A Figura 1 apresenta o dendrograma da CHD com a indicação dos subtemas e das categorias. O Quadro 1 apresenta as categorias temáticas, com indicação de subtemas e unidades de registro.
Quadro 1
Categorias temáticas sobre as representações sociais sobre ser mulher na sociedade contemporânea.
A categoria mulher tradicional foi formada pelas classes 1 e 2, que compõem 21 STs (33,87% do corpus). Essa categoria agrupa muitos adjetivos positivos sobre o processo significativo de ser mulher. Foi composta pelos seguintes subtemas: mãe forte (classe 1) e mulher sensível feminina (classe 2).
O subtema mãe forte se articula sobre o ser mãe, afetiva, forte e batalhadora, representando uma dádiva, pois a mulher pode gerar a vida. Conforme os relatos: “ é uma dádiva de Deus, ser uma pessoa que reproduz a vida ” (P. 22, 46 anos) e “ para mim ser mulher é ser mãe é uma coisa que eu acho que é muito da mulher ” (P. 6, 47 anos).
O subtema mulher sensível feminina é focado em atributos da feminilidade e sensibilidade, significativos e impositivos em ser mulher, enfocando conceitos que estimam a experiência feminina e que concordam com as características sociais atribuídas às mulheres. Conforme os relatos: “ a gente nasce mulher, então ser mulher é o que eu sou, é a minha vida. Eu acho que não me vejo de outra forma, eu gosto da concepção feminina da forma ” (P. 25, 25 anos) e “ geralmente somos mais apaziguadoras, eu pelo menos sou a mulher é mãe é porto-seguro ” (P. 25, 25 anos).
A categoria mulher guerreira foi formada pelas classes 3, 4, 5 e 6, que compõem 41 STs (66,13% do corpus). Essa categoria foi formada por falas das participantes que se estruturam de forma a reconhecer alguns valores positivos de ser mulher em sociedade, porém retrata de forma expressiva o fardo que se faz presente nessa vivência. Escancara dispositivos problemáticos que corroboram para uma visão crítica sobre o papel feminino e sua função social. Por fim, denota falas que demonstram uma trajetória dificultosa, com uma responsabilidade social imposta, uma luta constante por representatividade e para ocupar espaços que são negados pelo gênero. Foi composta pelos seguintes subtemas: cuidadora sensível (classes 3 e 6) e guerreira em desenvolvimento (classes 4 e 5).
O subtema de cuidadora sofrida retrata de forma expressiva o fardo que se faz presente nessa vivência. No entanto, são ressaltados alguns aspectos que remetem ao lado positivo, favorável e otimista, como a posse de um instinto de cuidado nato e de um olhar atencioso. Conforme os relatos: “ extrema responsabilidade social, tanto positiva quanto negativamente. Tem esse lado muito importante de ter esse peso, essa importância, mas ao mesmo tempo é muito carregado, muito pesado ” (P. 19, 49 anos) e “ ser mulher significa que nós temos um instinto de cuidado com o outro temos uma visão mais sensível com o próximo com o outro ” (P. 3, 42 anos).
O subtema de guerreira em desenvolvimento apresenta mecanismos problemáticos sobre o papel social de ser mulher, demonstrando uma vivência feminina dificultosa, caracterizada por uma bagagem social imposta cheia de responsabilidades, lutas constantes e uma procura por representatividade e adentrar a lugares negados ao feminino. Conforme os relatos: “ luta constante, essa luta diária, não tem tempo certo para terminar, ela é realmente constante ” (P. 12, 28 anos) e “ ser mulher agora é buscar a representatividade, buscar lugar dentro da sociedade, que é para o homem branco, hétero e família ” (P. 15, 26 anos).
Ao analisar as respostas apresentadas, pode-se refletir que as representações sociais de ser mulher são difusas e particulares a cada vivência. Contudo, alguns temas se evidenciam pelas categorias apresentadas e, com isso, é possível explorar que a visão de ser mulher é sinônimo de batalha. Entretanto, muitas das falas das participantes também expõem a gratificação ao nascer mulher – essas características, de batalha e gratificação, podem estar presentes em um mesmo discurso. É plausível argumentar que a visão da mulher permeia os adjetivos como afetiva, batalhadora e focada em atributos positivos do processo significativo do ser mulher. Essas ideias se apresentam também no grupo de mulheres que relatam o peso e a responsabilidade imposta socialmente sobre o sexo feminino, fatos que demonstram o sofrimento e a sensação de possuir um alvo nas costas devido as expectativas depositadas pela sociedade desde o momento do nascimento.
Prejuízos relacionado ao gênero feminino
As participantes também responderam à pergunta sobre se em algum momento da vida já se sentiram prejudicadas somente pelo fato de ser mulher. O resultado da análise de similitude está representado na Figura 2 .
Figura 2
Análise de similitude sobre sentir-se prejudicada pelo fato de ser mulher.
A palavra que ocupa uma posição central e organiza o conteúdo é a palavra “mulher”, estando ligadas às outras palavras que descrevem situações em que as participantes se sentiram prejudicadas, como as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho: “ no trabalho, meu chefe fala que se as mulheres quiserem ter um salário maior elas precisam lutar ” (P. 22, 46 anos).
No trabalho, nós temos uma dificuldade de aceitação por ser mulher… Nós mulheres precisamos nos preparar mais do que os homens . . . uma vez no curso o instrutor pegava muito no meu pé . . . ele disse que deveria cobrar muito mais de mim do que um homem, por conta da força física (P. 16, 40 anos).
Também foram analisadas as dificuldades encontradas na sociedade de modo geral, devido ao machismo instaurado socialmente. Desse corpus, se origina a palavra “muito”, que aparece como um segundo núcleo, dando ênfase a situações semelhantes, bastante significativas, pois demonstram os espaços destinados à figura feminina, bem como as barreiras enfrentadas no dia a dia por ser mulher, como visto nas respostas das participantes: “ no meu trabalho, ele é muito dominado por um ambiente machista, ele é dominado pelos homens basicamente ” (P. 1, 23 anos).
Eu venho de uma família muito tradicional, muito conservadora . . . eu passei por muitas experiências machistas dentro da minha casa desde pequena, então eu não tinha meus direitos, o direito de poder estudar inclusive, de poder dirigir, tirar a habilitação (P. 6, 47 anos).
Os núcleos de palavras que demonstram o contraste entre ser mulher e ser homem estão visíveis nas situações em que a palavra “homem” está ligada a atividades como jogar bola e dirigir, predominantemente, bem como as “vantagens” que o masculino lhes proporciona, enquanto a “mulher” envolve a maternidade, o ambiente doméstico e o casamento, corroborando a dissonância das classes. A fala das participantes exemplifica algumas situações: “ eu sou de família italiana, então eu sofria na infância e adolescência porque família italiana valoriza muito os homens, o homem tem tudo, pode tudo e as mulheres têm em partes, tanto na questão financeira, como em direitos ” (P. 19, 49 anos).
Para as esposas, é super normal o homem sair, jogar uma bola, tomar uma cerveja depois com os amigos e chegar tarde em casa . . . agora veja bem, as mulheres da minha geração, nenhuma mulher que eu conheço chega em casa, toma um banho, pega seu uniforme, vai jogar uma bola e fica lá tomando uma cerveja com as amigas, e vem para casa a hora que quer (P. 8, 43 anos).
No campo que engloba as palavras voltadas ao ambiente de trabalho e educacional, entram também as dificuldades enfrentadas devido à maternidade e as responsabilidades da dupla jornada entre vida doméstica e profissional. “ Trabalho fora, mas as responsabilidades de casa continuam sendo as minhas, cuidar do filho continua sendo da mulher ” (P. 6, 47 anos). “ Eu não conseguia emprego, não conseguia colocação nenhuma porque achavam que por eu não ter experiência eu não merecia uma chance, por eu ser só mãe e ser só dona de casa ” (P. 3, 42 anos).
Além disso, observam-se diversas outras palavras relacionadas às barreiras enfrentadas no cotidiano do ser mulher, por existir a necessidade de provar a todo momento sua capacidade e responsabilidade, assim como de buscar direitos para ser ouvida. Além disso, as mulheres sofrem preconceito e são vítimas da evidente desigualdade social. “ O pedreiro está construindo e às vezes falamos que queremos de um jeito, o pedreiro fala que mulher não sabe nada, falando que nos metemos onde não devemos ” (P. 24, 67 anos).
Meu chefe que era engenheiro também me tratava completamente diferente por eu ser mulher, então parecia que eu entendia menos do que eu estava fazendo, ou que ele me considerava incapaz de estar ali fazendo . . . então ele me interrompia, ele ria da minha cara quando eu não conseguia fazer alguma coisa (P. 10, 24 anos).
Outra situação destacada na análise de similitude pelas palavras “andar” e “rua” evidência a experiência negativa das mulheres em relação à violência e o medo enfrentados diariamente, seja em locais públicos ou privados, registrados nos seguintes trechos: “ pessoas da minha casa, minha irmã, teve agressões físicas com relação a homem, o namorado que não deixava sair com saia curta e decote, que falava que ela não podia fazer algumas coisas ” (P. 11, 26 anos); “ um homem me agrediu dentro da balada, me arrastou para dentro do banheiro ” (P. 5, 24 anos).
Tinha um homem no ônibus e estava meio estranho . . . quando eu dei por mim ele já estava atrás de mim, ele me agarrou no meio da rua, uma rua movimentada e me agarrou… tinha pessoas na volta e mulheres em volta e todo mundo olhava, mas o que me chocou foi que ninguém interferiu (P. 5, 24 anos).
Analisando o conteúdo dessa segunda questão, pode-se observar uma justificativa pela qual a construção da visão sobre ser mulher está permeada por lutas e dificuldades, pois quase todas as entrevistadas trouxeram relatos de situações nas quais as participantes sentiram-se prejudicadas somente pelo fato de terem nascido mulheres. Essas situações estão presentes nos mais diversos contextos, seja no ambiente familiar, institucional ou social.
Este estudo procurou conhecer o que algumas mulheres pensam sobre “ser mulher” e investigar se já se sentiram prejudicadas devido ao fato de serem mulheres. Nesse sentido, embora tenham sido realizadas e analisadas duas questões diferentes e inicialmente com objetivo distintos, para compreender de forma mais completa as representações de ser mulher na sociedade contemporânea, percebeu-se que os conteúdos referentes aos dois objetivos se entrelaçaram no discurso das participantes, visto que as dificuldades enfrentadas em ser mulher integram boa parte das suas representações. Com isso, na discussão deste artigo, os objetivos foram integrados. A partir da análise dos dados, foram obtidas categorias duais no discurso das participantes: a primeira é voltada às dificuldades enfrentadas no dia a dia pelo fato de ser mulher, que ressaltam a luta constante por espaço e valorização; em contrapartida, também existem as condições positivas, ditadas como dádivas, privilégios dotados somente por esse gênero. Em meio a tantas adversidades, os degraus conquistados são considerados muito mais significativos. Resultados similares foram obtidos no estudo de Alves e Antunes ( 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ), em que as mulheres entrevistadas enfatizaram características da mulher como ser guerreira, ser o alicerce do lar, harmonizar a família e suportar o sofrimento. O conceito de mulher guerreira também é descrito por Coelho, Beck, Fernandes, Machado e Camponogara ( 2016 Coelho, A. P. F., Beck, C. L. C., Fernandes, M. N. S., Machado, K. L., & Camponogara, S. (2016). Mulher-guerreira, mulher-homem: Reconhecimento do trabalho e seus sentidos na percepção de mulheres recicladoras. Texto & Contexto ‒ Enfermagem, 25(2), 1-9. https://doi.org/10.1590/0104-07072016002350014
https://doi.org/10.1590/0104-07072016002... ), especificamente em relação à capacidade superar as dificuldades e de perseverar.
É possível observar a dualidade presente nesses relatos, que motivam a considerar a experiência contemporânea da mulher como uma trajetória de dois pesos que se correspondem e, de alguma forma, se compensam. Pensando nisso, temos as RS como uma construção coletiva, um fenômeno da vida cotidiana, expressas e compartilhadas por meio do pensamento de um determinado grupo de pessoas (Polli & Camargo, 2010Polli, G. M., & Camargo, B. V. (2010). A teoria das representações sociais e a abordagem estrutural. In J. Segata, N. Machado, E. C. Mandroi, & E. R. Goetz (Orgs.), Psicologia: Inovações (pp. 13-41). Unidavi. ). Considera-se que o meio no qual essa mulher está inserida influencia essa construção, assim como as ideologias das quais ela compartilha, tendo algum efeito na visão de si e das demais mulheres de seu círculo social, pois os seres humanos compreendem o mundo ao seu redor e apropriam-se dele, de modo a criar explicações para justificar sua própria realidade (Jodelet, 2001Jodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. In D. Jodelet, As representações sociais (pp. 17-29). Eduerj. ; Polli & Camargo, 2010Polli, G. M., & Camargo, B. V. (2010). A teoria das representações sociais e a abordagem estrutural. In J. Segata, N. Machado, E. C. Mandroi, & E. R. Goetz (Orgs.), Psicologia: Inovações (pp. 13-41). Unidavi. ; Rocha, 2014 Rocha, L. F. (2014). Teoria das representações sociais: A ruptura de paradigmas das correntes clássicas das teorias psicológicas. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(1), 46-65. https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100005
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201400... ).
O segundo objetivo do estudo foi conhecer as dificuldades vivenciadas pelas mulheres. Com isso, observa-se que o significante “luta” está muito presente no discurso feminino, considerando que as mulheres sofrem as mais diversas pressões sociais, submissões e, principalmente, as omissões, devido à naturalização da violência sofrida. Essa naturalização pode ser observada no discurso das entrevistadas, quando, ao serem questionadas sobre situações nas quais sentiram se prejudicadas somente pelo fato de serem mulheres, iniciavam dizendo que não havia situações prejudiciais, e em seguida citavam vivências, que, apesar de tidas como comuns, demonstravam a relação vertical dos papéis femininos e masculinos. Fonseca, Ribeiro e Leal ( 2012 Fonseca, D. H., Ribeiro, C. G., & Leal, N. S. B. (2012). Violência doméstica contra a mulher: Realidades e representações sociais. Psicologia & Sociedade, 24(2), 307-314. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000200008
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200... ) consideram que as mulheres vítimas de violência carregam características culturais do gênero, visto que a própria construção social coloca o homem como dominante sobre a mulher. Segundo Machado, Almeida, Dias, Bernardes e Castanheira ( 2020 Machado, D. F., Almeida, M. A. S., Dias, A., Bernardes, J. M., & Castanheira, E. R. L. (2020). Violência contra a mulher: O que acontece quando a Delegacia de Defesa da Mulher está fechada? Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 483-494. https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.14092018
https://doi.org/10.1590/1413-81232020252... ), a violência contra a mulher se caracteriza como um fenômeno sociocultural, sendo toda ação ou omissão que tenha o gênero como causa, seja do sofrimento físico, psicológico, patrimonial, moral ou até a morte, alicerçada pelo patriarcado e pela desigualdade de gênero. Okabayashi, Tassara, Casaca, Falcão e Bellini ( 2020 Okabayashi, N. Y. T., Tassara, I. G., Casaca, M. C. G., Falcão, A. A., & Bellini, M. Z. (2020). Violência contra a mulher e feminicídio no Brasil: Impacto do isolamento social pela COVID-19. Brazilian Journal Health Review, 3(3), 4511-4531. https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-049
https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-049... ) citam que a violência contra a mulher é um problema mundial de saúde pública, e que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde ([OMS], 2021Organização Mundial da Saúde. (2021) Violence against women prevalence estimates, 2018. Global, regional and national prevalence estimates for intimate partner violence against women and global and regional prevalence estimates for non-partner sexual violence against women. ), uma em cada três mulheres já foram vítimas de violência sexual de parceiros íntimos ou não parceiros.
Além da violência física, sexual e psicológica, as mulheres seguem na batalha por reconhecimento, tendo que conquistar espaços na sociedade e no mercado de trabalho. Segundo Silveira e Fleck ( 2017 Silveira, J. C., & Fleck, C. F. (2017). Forte como… UMA MULHER: Uma análise dos desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Pampa]. Repositório institucional da Unipampa. https://tinyurl.com/37hetucc
https://tinyurl.com/37hetucc... ), o elemento “teto de vidro” surgiu em 1980 nos EUA como forma de apontar o obstáculo enfrentado pelas mulheres para alcançar cargos elevados dentro das organizações, barreira unicamente influenciada pelo gênero. Os motivos desencadeadores dessas barreiras seriam as múltiplas tarefas socialmente atribuídas às mulheres, como a de mãe, esposa, dona de casa e, ainda assim, profissional. As dificuldades encontradas no âmbito educacional e profissional foram os temas mais evidentes no discurso das entrevistadas quanto a sentirem-se prejudicadas. As participantes falaram sobre as barreiras criadas socialmente sobre o gênero feminino e a crença sobre sua incapacidade de ocupar espaços públicos de forma eficiente, existindo maior necessidade de provar sua capacidade e responsabilidade, acarretando jornadas sobrecarregadas entre ambiente profissional e doméstico. Souza ( 2020 Souza, C. G. (2020). A mulher de negócios no discurso do trabalho feminino. Revista Katálysis, 23(3), 700-706. https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p700
https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23... ) ressalta que a exploração e opressão da mulher tem uma determinação histórico-econômica, pois as mulheres eram destinadas às ambições do casamento e da constituição familiar, sendo privadas do direito à educação e destinadas ao trabalho doméstico. Em famílias em que a mulher tem menor poder de decisão, observa-se que as filhas mulheres têm menos oportunidades inclusive na área educacional, pois a frequência escolar é menor em relação aos filhos homens (Campaña, Giménez-Nadal, & Molina, 2018 Campaña, J. C., Giménez-Nadal, J. I., & Molina, J. A. (2018). Gender norms and the gendered distribution of total work in Latin American households. Feminist Economics, 24(1), 35-62. https://doi.org/10.1080/13545701.2017.1390320
https://doi.org/10.1080/13545701.2017.13... ; Chai et al., 2022 Chai, Y., Ríos-Salas, V., Stek, P., & Heymann, J. (2022). Does enhancing paid maternity leave policy help promote gender equality? Evidence from 31 low- and middle-income countries. Gender Issues, 39, 335-367. https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293-4
https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293... ).
Com o campo do privado imposto às mulheres, há um lócus fundamental de uma das violências destinadas à mulher, no qual se encontram papéis patriarcais impostos socialmente, como: ser uma boa esposa, amante, cozinheira, doméstica e, principalmente, o qual mais se entrelaça à visão da mulher, a maternidade (Gonzaga & Mayorga, 2019 Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidade: Uma reflexão feminista decolonial. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(spe2), 59-73. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712
https://doi.org/10.1590/1982-37030032257... ). Esse papel, segundo as autoras, é significante no quesito do ser mulher, sendo o delimitador da aceitação social e um destino biológico inquestionável (Barbosa & Rocha-Coutinho, 2012 Barbosa, P. Z., & Rocha-Coutinho, M. L. (2012). Ser mulher hoje: A visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade, 23(3), 577-587. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200... ; Roso & Gass, 2018 Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018... ). Quando uma mulher opta por não se tornar mãe, ocorre uma comoção e uma certa indignação, causando um espanto e comprovando que o papel maternal é destinado ao espaço privado, porém esse corpo é assunto do espaço público (Barbosa & Rocha-Coutinho, 2012 Barbosa, P. Z., & Rocha-Coutinho, M. L. (2012). Ser mulher hoje: A visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade, 23(3), 577-587. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011
https://doi.org/10.1590/S0102-7182201200... ). Essa naturalização da concepção justifica a assimetria de gênero no campo social, visto que as mulheres possuem listas de deveres e afazeres enquanto aos homens fica facultada a livre escolha, situação exemplificada pelo discurso das participantes, que relataram sentirem-se prejudicadas quando ao homem estão destinadas as questões voltadas ao lazer, como jogar futebol, e as mulheres se limitam aos afazeres domésticos e maternais. Essa assimetria gera injustiças sociais e uma ruptura de direitos, negligenciando uma vivência adequada nos segmentos da sexualidade, do trabalho, do controle reprodutivo e no próprio espaço familiar (Roso & Gass, 2018 Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018... ). Quando as normas de gênero não são rígidas e tradicionais, as divisões das tarefas domiciliares são mais equilibradas, especialmente em famílias com filhos e com melhor nível educacional, que têm mais acesso à serviços de cuidado dos filhos (Campaña et al., 2018 Campaña, J. C., Giménez-Nadal, J. I., & Molina, J. A. (2018). Gender norms and the gendered distribution of total work in Latin American households. Feminist Economics, 24(1), 35-62. https://doi.org/10.1080/13545701.2017.1390320
https://doi.org/10.1080/13545701.2017.13... ).
Quando se opta por consolidar a descendência, o papel de mãe completa a figura feminina, efetivando socialmente o ser mulher. Nessa análise, temos como prerrogativa a legitimação que, para alcançar a plenitude feminina, é necessário vivenciar a maternidade. Não há uma diferenciação do ser mulher/ser mãe, como se essa função fosse imbricada ao nascer com o órgão reprodutor feminino, tirando o poder de escolha e centralizando um único destino possível à existência desses corpos. Por mais que a maioria dos movimentos feministas atuais debata questões relacionadas à maternidade, alguns citam que essa decisão completa a experiência feminina e ressaltam a livre escolha. Mas as instituições estatais, a religião, a família e os amigos são reguladores da sexualidade feminina e impulsionam o pensamento de que a maternidade é um destino inevitável. Com isso, muitas mulheres se constituem mãe nem sempre desejando o papel (Gonzaga & Mayorga, 2019 Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidade: Uma reflexão feminista decolonial. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(spe2), 59-73. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712
https://doi.org/10.1590/1982-37030032257... ).
Quando se escolhe a maternidade, não é apenas no espaço privado que se exerce essa função, até porque, nos últimos anos, a mulher está ampliando suas possibilidades sociais. Logo, esse papel se torna o cerne da mulher, reverberando em praticamente todas as esferas que ela ocupa. Um dos segmentos em que a presença da mulher está crescendo é o campo organizacional – concomitantemente, o papel de mãe influencia diretamente a representação da mulher na empresa. No ambiente de trabalho, as mulheres carregam a visão de mãe e esposa antes da sua posição profissional, representações sociais que reproduzem uma desconfiança e um impacto na ascensão profissional, visto que, para as empresas, essa mulher tem o respaldo social de falhar no espaço público e voltar ao privado (Alves & Antunes, 2021Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá. ; Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ). Observa-se que as mães, especialmente com filhos pequenos, encontram muitas dificuldades no mercado de trabalho, como diferenças salariais, tempo parcial de trabalho para poder assumir parte do cuidado dos filhos e problemas de acesso a creches (Campaña et al., 2018 Campaña, J. C., Giménez-Nadal, J. I., & Molina, J. A. (2018). Gender norms and the gendered distribution of total work in Latin American households. Feminist Economics, 24(1), 35-62. https://doi.org/10.1080/13545701.2017.1390320
https://doi.org/10.1080/13545701.2017.13... ).
A pauta em torno da maternidade se apresenta como uma dualidade na experiência do ser mulher, visto que as instituições patriarcais instigam a realização da procriação, porém cobram uma prática digna e plausível, tornando novamente uma atitude feminina um ato público. Essas duas esferas se chocam quando mulheres relatam se sentirem prejudicadas pela cobrança de serem boas mães e precisarem provar que são capazes de exercerem um papel suficientemente bom, às vezes com o adicional de serem responsáveis pelas atitudes dos filhos. No entanto, expressam sentimentos de completude, realização, amor inexplicável e felicidade em relação a exercer o papel materno (Roso & Gass, 2018 Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018... ).
Nesse sentido, a dualidade aparece quando muitas mulheres narram com satisfação e felicidade a maternidade como uma das grandes virtudes e privilégios de ser mulher, evidenciando o poder que essa dádiva de gerar a vida traz ao sexo feminino, pois tornar-se mãe é um processo internalizado de maneiras diferentes pelas mulheres – o desejo da maternidade pode aparecer a partir da infância ou desenvolver-se conforme o passar do tempo. Esse processo em si é de extrema importância na vida de uma mulher que deseja ser mãe, visto que é marcada por diversas mudanças externas, fisiológicas e emocionais, tendo a percepção de que, além dos papéis sociais atribuídos a si, haverá também o de mãe. As expressões de emoções são definidas como práticas e ações; o amor segue essa estrutura de entrega e doação, e a maternidade é caracterizada como a posição mais intrínseca do amor, naturalizado à subjetividade feminina. A cultura construída nas relações emocionais está intimamente ligada à maneira de relacionar-se ao pensamento internalizado das mulheres como mães, criando uma identificação com esse grupo e com essas características (Braga, Miranda, & Correio, 2018Braga, R. C., Miranda, L. H. A., & Correio, J. P. C. V. (2018). Para além da maternidade: As configurações do desejo na mulher contemporânea. Pretextos, 3(6), 523-540. ; Emídio & Gigek, 2019 Emídio, T. S., & Gigek, T. (2019). “Elas não querem ser mães”: Algumas reflexões sobre a escolha pela não maternidade na atualidade. Trivium, 11(2), 186-197. http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186
http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.201... ; Xavier & Simões, 2020Xavier, M. C., & Simões, G. B. M. (2020). A mulher na sociedade contemporânea: Análise da personagem mulher-elástica, da animação Os Incríveis 2 [Apresentação de Trabalho]. 1º Congresso Nacional em Estudos Interdisciplinares da Linguagem, Campina Grande, Paraíba, Brasil. ).
Ainda em relação ao mercado de trabalho, um estudo realizado com 31 executivos de alto nível (Antunes et al., 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ) foi pautado em compreender e escutar a opinião masculina sobre as mulheres no âmbito organizacional, e os resultados obtidos corroboram as falas das participantes deste estudo. De acordo com as falas do estudo de Antunes et al. ( 2018Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365. ), as mulheres devem se comprometer mais com a empresa, e, ainda assim, ter cuidado com o desempenho do papel que realizam em casa. Além disso, as mulheres correm mais risco no mercado de trabalho pelo fato de se deixarem ser direcionadas pela emoção, entretanto, também não devem ter uma postura muito firme para não serem masculinas e perderem a essência da feminilidade. Observa-se, novamente, a dualidade relacionada à vivência feminina em exercer funções ativas e esperadas no espaço público, sempre delimitando e pautando suas atitudes para não serem julgadas por fazerem demais ou de menos. A sensação de estar sendo prejudicada também perpassa esse meio, demonstrando que as representações sociais da mulher nesse ambiente estão presentes na desqualificação profissional, a não designação de projetos, perseguição e brincadeiras mal-intencionadas nas organizações.
Por outro lado, há mulheres que se sentem bem, satisfeitas e contentes com sua trajetória e posição profissional, muitas das quais se sentem completas por exercerem a função desejada sem compartilhar histórias desagradáveis e experiências traumáticas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ([IBGE], 2015 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (s.d.). Séries históricas e estatísticas: Mercado e força de trabalho – População economicamente ativa (2001-2015). https://tinyurl.com/52pk7amb
https://tinyurl.com/52pk7amb... ), no ano de 2015, as mulheres correspondiam à 25,95% da população economicamente ativa (PEA) do Brasil, sendo 25,26% registradas com carteira assinada. Esses números se mostram positivos quando enxergados por um viés libertário, levando em consideração o fato de que as mulheres são constantemente impedidas de trabalhar por questões culturais e patriarcais. Portanto, pode-se perceber que mais mulheres estão buscando por bem-estar e suas liberdades econômicas, tendo mais opções de escolha com relação a trabalhar ou não fora do âmbito doméstico (Soares & Izaki, 2002Soares, S., & Izaki, R. S. (2002). A participação feminina no mercado de trabalho. Ipea. ). O trabalho edifica a relação com a autonomia e independência feminina, mas é importante ressaltar que algumas mulheres trabalham não por escolha, mas por questões de sobrevivência. No entanto, isso não exclui o fator da identificação da mulher com uma vida profissional bem-sucedida e outras possibilidades (Lima, 2010Lima, Q. S. (2010). Discursos identitários de mulheres independentes: Heterogeneidade na construção da imagem de si. Anais do Seta, (4), 956-967. ). Algumas empresas têm observado uma associação em relação ao lucro e contratações femininas, alterando o cenário criado de que a mulher seria menos qualificada para exercer trabalhos que não fossem relacionados à maternidade ou ao trabalho doméstico, e trazendo uma leve alteração no papel familiar exercido pelo homem, pois com as jornadas diárias de trabalho iguais, a execução do serviço doméstico tende a ser mais equilibrada (Silva, 2006Silva, J. V. A. (2006). A relação trabalho e família de mulheres empreendedoras. Perspectivas Contemporâneas, 1(1), 1-18. ).
Considerando os fatores analisados e mais presentes no discurso das entrevistadas, fica evidente a dualidade na vivência do dia a dia do ser mulher, assim como na construção de suas representações. De um lado, há questões negativas voltadas à mulher guerreira, as dificuldades profissionais e educacionais, desigualdade quanto às tarefas domésticas e familiares, naturalização da violência e uma constante luta por espaço e valorização; por outro lado, há as positividades atribuídas à mulher tradicional, como a particularidade que a maternidade permite ao gênero feminino, o crescimento e visibilidade das mulheres no mercado de trabalho e sustento dos lares, bem como, quando as conquistas perante essa sociedade desigual se tornam mais significativas, a capacidade feminina de superação mesmo entre tanta adversidades.
Observa-se, ainda, que as atribuições negativas se fazem mais presentes, uma vez que 66,13% dos STs são atribuídos a situações da mulher guerreira, das dificuldades e desigualdades, enquanto somente 33,87% são destinados às qualificações da mulher tradicional, de ser mãe e/ou mulher sensível feminina. Portanto, as representações sociais de ser mulher na sociedade contemporânea são permeadas por lutas, conquistas e, principalmente, pela capacidade que as mulheres têm de se reinventar e batalhar por seu lugar, mesmo em meio a tantas barreiras e jornadas sobrecarregadas entre o ambiente público e privado. As mulheres têm cada vez mais ocupado espaços que demonstram não só sua capacidade, mas seu direito de estar onde quiserem, quando quiserem e como quiserem, independentemente da classe, ideologia, religião etc. – as mulheres em uníssono buscam por apenas SER.
Este artigo buscou compreender as representações sociais que contemplam o que é ser mulher na sociedade contemporânea, assim como as situações em que elas se sentem prejudicadas somente pelo fato de serem mulheres. Pode-se observar que, mesmo com os avanços e conquistas das mulheres diante dos mais diversos patamares sociais, ainda existe uma grande resistência para desconstruir as representações do papel feminino voltado ao ambiente privativo do lar, do casamento e da maternidade, assim como ainda são frequentes as limitações vivenciadas no ambiente público, institucional e educacional. Essas limitações resultam em uma constante assimetria, baseada em uma sociedade machista e patriarcal, estruturando uma barreira que implica diretamente na conquista da desejada igualdade social entre os gêneros.
Os dados analisados demonstram que as representações sociais da mulher se entrecruzam em percepções positivas e negativas acerca de sua existência, sendo enfatizadas as situações em que estas sentem-se prejudicadas somente por serem mulheres, devido à maior relevância das negatividades na construção das representações. Esses agravantes sociais se originam tanto culturalmente como com as instituições estatais, a família e o círculo social, o que impulsiona essa dupla realidade vivenciada pelas mulheres.
Este estudo implica contribuições e avanços referentes à temática das representações sociais e de gênero, com pontuações importantes para a expansão do conhecimento sobre as mulheres e suas especificidades, campo pouco explorado e com um grande potencial de crescimento, visto que a vivência feminina está cada vez mais diversificada e singular. Em contrapartida, foram identificadas algumas limitações no estudo, visto que o contato com as mulheres se tornou mais complexo considerando o contexto da pandemia de covid-19, em que as entrevistas precisaram ser realizadas de maneira remota, fator que pode dificultar um contato mais profundo e pessoal. Para os estudos seguintes, sugere-se a realização de entrevistas no modelo presencial, de modo a facilitar a coleta de dados mais singulares, assim como a seleção de um número maior de participantes para que se possa realizar um recorte mais significativo das representações.
Alves, R. C. A., & Antunes, M. C. (2021). Mulheres e a tripla jornada de trabalho. Juruá.
Antunes, C. V., Neto, A. C., Lima-Souza, E. R. P., & Santos, C. M. M. (2018). O que eles pensam sobre elas? Representações Sociais da mulher executiva. Revista Alcance, 25(3), 349-365.
Barbosa, P. Z., & Rocha-Coutinho, M. L. (2012). Ser mulher hoje: A visão de mulheres que não desejam ter filhos. Psicologia & Sociedade, 23(3), 577-587. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011
» https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000300011Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. Edições 70.
Barros, S. C. V., & Mourão, L. (2018). Panorama da participação feminina na educação superior, no mercado de trabalho e na sociedade. Psicologia & Sociedade, 30, 1-11. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30174090
» https://doi.org/10.1590/1807-0310/2018v30174090Bayone, A. M., & Burrowes, P. C. (2019). Como ser mulher na publicidade: Femvertising e as “novas” representações do feminino. Consumer Behavior Review, 3(spe), 24-37. Https://doi.org/10.51359/2526-7884.2019.242586
» https://doi.org/10.51359/2526-7884.2019.242586Bedin, G. A., Cittadino, G. G., & Araújo, F. D. (2015). Poder, cidadania e desenvolvimento no estado democrático de direito [Apresentação de trabalho]. 24º Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
Braga, R. C., Miranda, L. H. A., & Correio, J. P. C. V. (2018). Para além da maternidade: As configurações do desejo na mulher contemporânea. Pretextos, 3(6), 523-540.
Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). IRAMUTEQ: Um software gratuito para análise de dados textuais. Temas em Psicologia, 21(2), 513-518. http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16
» https://doi.org/10.9788/TP2013.2-16Campaña, J. C., Giménez-Nadal, J. I., & Molina, J. A. (2018). Gender norms and the gendered distribution of total work in Latin American households. Feminist Economics, 24(1), 35-62. https://doi.org/10.1080/13545701.2017.1390320
» https://doi.org/10.1080/13545701.2017.1390320Chai, Y., Ríos-Salas, V., Stek, P., & Heymann, J. (2022). Does enhancing paid maternity leave policy help promote gender equality? Evidence from 31 low- and middle-income countries. Gender Issues, 39, 335-367. https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293-4
» https://doi.org/10.1007/s12147-021-09293-4Coelho, A. P. F., Beck, C. L. C., Fernandes, M. N. S., Machado, K. L., & Camponogara, S. (2016). Mulher-guerreira, mulher-homem: Reconhecimento do trabalho e seus sentidos na percepção de mulheres recicladoras. Texto & Contexto ‒ Enfermagem, 25(2), 1-9. https://doi.org/10.1590/0104-07072016002350014
» https://doi.org/10.1590/0104-07072016002350014Cunha, J. R. F., Godoi, I. F., & Alves, T. R. L. (2019). Representações sociais do gênero feminino nas músicas brasileiras mais reproduzidas em 2017. Revista Brasileira de Educação e Cultura, (19), 68-83.
Dewes, J. O. (2013). Amostragem em bola de neve e respondent-driven sampling: Uma descrição dos métodos [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. LUME – Repositório digital da UFRGS. https://tinyurl.com/ymd4k4mu
» https://tinyurl.com/ymd4k4muEmídio, T. S., & Gigek, T. (2019). “Elas não querem ser mães”: Algumas reflexões sobre a escolha pela não maternidade na atualidade. Trivium, 11(2), 186-197. http://dx.doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186
» https://doi.org/10.18379/2176-4891.2019v2p.186Feitosa, Y. S., & Albuquerque, J. S. (2019). Evolução da mulher no mercado de trabalho. Bussiness Journal, 1(1), 1-17. https://doi.org/10.6008/CBPC2674-6433.2019.001.0005
» https://doi.org/10.6008/CBPC2674-6433.2019.001.0005Fonseca, D. H., Ribeiro, C. G., & Leal, N. S. B. (2012). Violência doméstica contra a mulher: Realidades e representações sociais. Psicologia & Sociedade, 24(2), 307-314. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000200008
» https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000200008Galvane, F. A. S., Salvaro, G. I. J., & Moraes, A. Z. (2015). Mulheres em cargos profissionais de chefia: O paradoxo da igualdade. Fractal: Revista de Psicologia, 27(3), 301-309. https://doi.org/10.1590/1984-0292/919
» https://doi.org/10.1590/1984-0292/919Gonzaga, P. R. B., & Mayorga, C. (2019). Violências e instituição maternidade: Uma reflexão feminista decolonial. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(spe2), 59-73. https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712
» https://doi.org/10.1590/1982-3703003225712Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (s.d.). Séries históricas e estatísticas: Mercado e força de trabalho – População economicamente ativa (2001-2015). https://tinyurl.com/52pk7amb
» https://tinyurl.com/52pk7ambJodelet, D. (2001). Representações sociais: Um domínio em expansão. In D. Jodelet, As representações sociais (pp. 17-29). Eduerj.
Lima, Q. S. (2010). Discursos identitários de mulheres independentes: Heterogeneidade na construção da imagem de si. Anais do Seta, (4), 956-967.
Machado, D. F., Almeida, M. A. S., Dias, A., Bernardes, J. M., & Castanheira, E. R. L. (2020). Violência contra a mulher: O que acontece quando a Delegacia de Defesa da Mulher está fechada? Ciência & Saúde Coletiva, 25(2), 483-494. https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.14092018
» https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.14092018Maia, C. J. (2018). Bravas e insubmissas: Mulheres e gênero na literatura memorialista do sertão norte-mineiro. Tempo & Argumento, 10(25), 358-384. https://doi.org/10.5965/2175180310252018358
» https://doi.org/10.5965/2175180310252018358Marinho, A. C. P. (2017). A estrutura patriarcal do olhar: Uma análise da objetificação do corpo da mulher na imagem. O Mosaico, (14), 179-189.
Martins, C., & Miranda, D. C. B. (2020). Erotização e sexualização do corpo: Representações sociais da mulher brasileira. Gênero na Amazônia, (16-18), 131-145.
Matsunaga, P. S. (2008). As representações sociais da mulher no movimento hip hop. Psicologia & Sociedade, 20(1), 108-116. https://doi.org/10.1590/S0102-71822008000100012
» https://doi.org/10.1590/S0102-71822008000100012Ney, J. B. (2019). Representações sociais das mulheres em revista brasileira voltada ao público feminino [Monografia, Centro Universitário de Brasília]. Repositório institucional da UniCEUB. https://tinyurl.com/bdddrj8m
» https://tinyurl.com/bdddrj8mOrganização Mundial da Saúde. (2021) Violence against women prevalence estimates, 2018. Global, regional and national prevalence estimates for intimate partner violence against women and global and regional prevalence estimates for non-partner sexual violence against women.
Okabayashi, N. Y. T., Tassara, I. G., Casaca, M. C. G., Falcão, A. A., & Bellini, M. Z. (2020). Violência contra a mulher e feminicídio no Brasil: Impacto do isolamento social pela COVID-19. Brazilian Journal Health Review, 3(3), 4511-4531. https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-049
» https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-049Perestrelo, J. R. R., Tonini, K. A. D., Ferreira, T. C. R., Luna, C. P., & Sauerbronn, J. F. R. (2017). Mulher e música: Uma análise de discurso do papel social da mulher na música brasileira [Apresentação de trabalho]. 8º Congresso Brasileiro de Administração e Contabilidade, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
Polli, G. M., & Camargo, B. V. (2010). A teoria das representações sociais e a abordagem estrutural. In J. Segata, N. Machado, E. C. Mandroi, & E. R. Goetz (Orgs.), Psicologia: Inovações (pp. 13-41). Unidavi.
Polli, G. M., Silva, J. C. C., Pereira, M. G., Reis, R. A., Peruci, T. T., Gelinski, E. M. M., & Gebara, T. S. S. (2018). Social representations of anorexia among university students and risk factors: Possible relations. Psico, 49(1), 12-20. https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.1.25251
» https://doi.org/10.15448/1980-8623.2018.1.25251Ribeiro, D. (2014, 25 de novembro). As diversas ondas do feminismo acadêmico. Portal Geledés. https://tinyurl.com/5746c5fc
» https://tinyurl.com/5746c5fcRocha, L. F. (2014). Teoria das representações sociais: A ruptura de paradigmas das correntes clássicas das teorias psicológicas. Psicologia: Ciência e Profissão, 34(1), 46-65. https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100005
» https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100005Roso, A. R., & Gass, R. L. (2018). Novos tempos, novos lugares: Reflexões sobre a maternidade em grupos de empoderamento de mulheres. Psicologia em Revista, 24(2), 442-461. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461
» https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n2p442-461Santos, L. C., Carvalho, A. B., Amaral, J. G., Borges, L. A., & Mayorga, C. (2016). Gênero, feminismo e psicologia social no Brasil: Análise da revista Psicologia & Sociedade (1996-2010). Psicologia & Sociedade, 28(3), 589-603. https://doi.org/10.1590/1807-03102016v28n3p589
» https://doi.org/10.1590/1807-03102016v28n3p589Santos, C. S., & Silveira, L. M. C. (2017). Percepções de mulheres que vivenciaram o aborto sobre autonomia do corpo feminino. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(2), 304-317. https://doi.org/10.1590/1982-3703000582016
» https://doi.org/10.1590/1982-3703000582016Sêga, R. A. (2000). O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Anos 90, 8(13), 128-133. https://doi.org/10.22456/1983-201X.6719
» https://doi.org/10.22456/1983-201X.6719Silva, J. V. A. (2006). A relação trabalho e família de mulheres empreendedoras. Perspectivas Contemporâneas, 1(1), 1-18.
Silva J. N., Santos, R., Santana, K. W. B., & Ferreira, A. S. (2021). As transformações nos modos de viver em família e o papel social da mulher. Humanidades e Inovações, 8(46), 344-353.
Silveira, J. C., & Fleck, C. F. (2017). Forte como… UMA MULHER: Uma análise dos desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho [Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal do Pampa]. Repositório institucional da Unipampa. https://tinyurl.com/37hetucc
» https://tinyurl.com/37hetuccSoares, G. A. A. (2019). O avanço do neoconservadorismo e a concepção do papel social da mulher no Brasil contemporâneo: Uma breve análise dos significados das declarações e decisões políticas do governo Bolsonaro e de sua ministra Damares Alves [Apresentação de trabalho]. 16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, Brasília, DF, Brasil.
Soares, S., & Izaki, R. S. (2002). A participação feminina no mercado de trabalho. Ipea.
Souza, C. G. (2020). A mulher de negócios no discurso do trabalho feminino. Revista Katálysis, 23(3), 700-706. https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p700
» https://doi.org/10.1590/1982-02592020v23n3p700Souza, M. A. R., Wall, M. L., Thuler, A. C. M. C., Lowen, I. M. V., & Peres, A. M. (2018). O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52, 1-7. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353
» https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353Vieira, K. F. L., Arruda, M. V. S., Nóbrega, R. P. M., & Veiga, P. M. M. (2016). Representações sociais das relações sexuais: Um estudo transgeracional entre mulheres. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 329-340. https://doi.org/10.1590/1982-3703001752013
» https://doi.org/10.1590/1982-3703001752013Xavier, M. C., & Simões, G. B. M. (2020). A mulher na sociedade contemporânea: Análise da personagem mulher-elástica, da animação Os Incríveis 2 [Apresentação de Trabalho]. 1º Congresso Nacional em Estudos Interdisciplinares da Linguagem, Campina Grande, Paraíba, Brasil.
-
Como citar:
Teixeira, A. A., Silva, A. C. D., Antunes, M. C., & Polli, G. M. (2024). Representações Sociais sobre Ser Mulher na Sociedade Contemporânea. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003264821
-
How to cite:
Teixeira, A. A., Silva, A. C. D., Antunes, M. C., & Polli, G. M.(2024). Social Representations about Being a Woman in Contemporary Society. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003264821
-
Cómo citar:
Teixeira, A. A., Silva, A. C. D., Antunes, M. C., & Polli, G. M. (2024). Representaciones Sociales sobre Ser Mujer en la Sociedad Contemporánea. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003264821
- Publicação nesta coleção
30Set2024 - Data do Fascículo
2024
- Recebido
08Jun2022 - Aceito
21Jul2023 - Revisado
11Maio2023
Autoria
Aline do Amaral Teixeira
Aline do Amaral Teixeira Graduanda de Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba – PR. Brasil. E-mail: at_aline@hotmail.com https://orcid.org/0000-0003-1935-4362
Ana Caroline Dias da Silva
Ana Caroline Dias da Silva Graduanda de Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba – PR. Brasil. E-mail: ana.16.dias.97@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-6070-6265
Maria Cristina Antunes
Maria Cristina Antunes Doutora em Psicologia. Professora Adjunta do Mestrado em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba – PR. Brasil. E-mail: mcrisantunes@uol.com.br https://orcid.org/0000-0002-6767-518X
Gislei Mocelin Polli
Gislei Mocelin Polli Doutora em Psicologia. Professora Adjunta do Mestrado em Psicologia Forense da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Curitiba – PR. Brasil. E-mail: gismocelin@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-7254-7441
Endereço para envio de correspondência:
- Rua Nicarágua, 1995, apto. 705-B, Bacacheri. CEP: 82515-260. Curitiba – PR. Brasil.
Figuras | Tabelas
- Figuras (2)
- Tabelas (2)
Figura 1
Dendrograma – Representações sociais sobre ser mulher.
Figura 2
Análise de similitude sobre sentir-se prejudicada pelo fato de ser mulher.
Figura 1 Dendrograma – Representações sociais sobre ser mulher.
Figura 2 Análise de similitude sobre sentir-se prejudicada pelo fato de ser mulher.
Tabela 1 Perfil das participantes.
Participante | Idade | Escolaridade | Trabalha | * * Renda: quantidade de salários mínimos/família. Renda | Filhos | Local onde mora |
---|---|---|---|---|---|---|
1 | 23 | Superior Incompleto | Sim | 2 | 0 | Curitiba |
2 | 21 | Superior Incompleto | Sim | 1 | 0 | Região Metropolitana |
3 | 42 | Superior Completo | Sim | 4 | 2 | Região Metropolitana |
4 | 23 | Ensino Médio | Sim | 2 | 0 | Região Metropolitana |
5 | 24 | Superior Completo | Sim | 2 | 0 | Curitiba |
6 | 47 | Superior Completo | Não | 4 | 2 | Curitiba |
7 | 30 | Superior Incompleto | Sim | 2 | 0 | Curitiba |
8 | 43 | Superior Completo | Sim | 4 | 2 | Região Metropolitana |
9 | 35 | Ensino Técnico | Sim | 6 | 1 | Região Metropolitana |
10 | 24 | Superior Incompleto | Sim | 1 | 0 | Curitiba |
11 | 26 | Superior Completo | Sim | 20 | 0 | Curitiba |
12 | 28 | Superior Completo | Sim | 5 | 0 | Região Metropolitana |
13 | 32 | Doutora | Sim | 10 | 0 | Região Metropolitana |
14 | 28 | Ensino Médio incompleto | Sim | 2 | 0 | Curitiba |
15 | 26 | Superior Completo | Sim | 3 | 0 | Curitiba |
16 | 40 | Superior Completo | Sim | 5 | 3 | Região Metropolitana |
17 | 60 | Ensino Fundamental Incompleto | Não | 1 | 5 | Região Metropolitana |
18 | 21 | Superior Completo | Sim | 1 | 1 | Curitiba |
19 | 49 | Superior Completo | Sim | 3 | 2 | Região Metropolitana |
20 | 20 | Superior Incompleto | Não | 3 | 0 | Região Metropolitana |
21 | 30 | Ensino Fundamental | Não | 1 | 3 | Região Metropolitana |
22 | 46 | Superior Completo | Sim | 1 | 0 | Região Metropolitana |
23 | 33 | Superior Completo | Sim | 3 | 0 | Região Metropolitana |
24 | 67 | Ensino Fundamental | Sim | 1 | 2 | Região Metropolitana |
25 | 25 | Superior Incompleto | Não | 2 | 0 | Curitiba |
- *
Renda: quantidade de salários mínimos/família.
Quadro 1 Categorias temáticas sobre as representações sociais sobre ser mulher na sociedade contemporânea.
Unidades de registro | Subtemas | Categorias |
---|---|---|
Ser mãe é algo destinado à mulher, força de afetividade, guerreira, exige uma força, posição de responsabilidade, uma dádiva por reproduzir a vida, ser independente (6). | Mãe Forte | Mulher Tradicional |
Ser mulher é um sentimento, ser feliz, é um símbolo da vida, ter voz, não desistir, persistir nos desejos, ter atitude, ser feminina, apaziguadora, porto seguro, menos valorizada no ambiente organizacional, porém não é todo trabalho destinado à mulher (9). | Mulher Sensível Feminina | |
Instinto de cuidado, heroína, ter lados positivos, possuir um alvo nas costas, sempre buscar por melhorias, conquistas são dificultosas, um fardo, presenciar situações de sofrimento por ser mulher, não ter paz, vivência carregada de peso (9). | Cuidadora Sofrida | Mulher Guerreira |
Trabalhar muito, lutar para se impor, sempre oferecer o melhor para provar que é melhor, ser julgada, ser forte todos os dias, todo dia é uma conquista, não é mil maravilhas, luta diária, pressão do patriarcado, mostrar que ser mulher não interfere nas ações diárias (9). | Guerreira em Desenvolvimento |